dia 01
Ainda é escuro lá fora, mas um pássaro já começa a cantar, acredito ser o mesmo pássaro a cantar desde o primeiro dia em que o ouvi. Minha cama não me suporta mais, não consegue aguentar mais o meu infinito rolar de um lado para o outro, então me expulsa definitivamente dessa noite. O descontentamento é mútuo.
Com certa ingratidão reclamo das coisas que estão aqui dentro de mim e reclamo das coisas que estão fora de mim. Penso em você incessantemente. Acredito cegamente de que poderia dissuadir este desconforto, que se aloja sob minha pele, a me abandonar, mas não o fará.
Começo calmamente, como se isso pudesse me ajudar de alguma forma, a encontrar a causa dessa insatisfação. Entender por qual motivo tenho estado nessa condição. Começo da primeira lembrança e tento passar à segunda, mas logo percebo que tenho que descer um degrau para cada degrau que desço, só assim poderei encontrar alguma resposta. Logo me canso, pois já fiz tantas vezes esse caminho e termino parado em um ponto que não consegue me dizer que seja real.
Você já esteve aqui, entre meus braços, se escondendo próxima a meu peito. Seus olhos fechados, um tranquilo sorriso nos lábios calados, cabelos escuros deslizando sobre uma pele límpida e macia. Queria apenas reter aquele momento, segurar você bem próxima, perpetuar aqueles instantes. Mas eu já sabia onde terminaria, logo tudo se desfaria e estaria de volta às chuvas.
O dia promete se estender por mais tempo hoje, parece tripudiar, se deliciar com o sofrimento alheio. Não sei o que você faz agora, nem o que fará depois. Muito provavelmente não fará muito por mim. Não devo esperar muito nem do dia, nem de você.
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